domingo, 12 de agosto de 2012


MEU PAI SE CHAMA VANDETE

j.Torquato (Supertor4)
Maceió, 12 ago/2012



Numa escuridão qualquer, com um ruído cadente, embrulhado num quentinho banho aconchegante, eu dormia feliz na minha completa falta de conhecimento de tudo que havia de vir. E....
FIAT LUX
Nasci, logo berrei atordoado, os barulhos diferentes zumbiam em torno de mim, eu voava entre panos e metais, algo doeu na minha barriga, me deram um tapa, apanhei na entrada da vida. E chorei pela primeira vez, esperneei em desagrado, indignado meus pés derrubaram a bacia de água, chutei tudo na minha frente soltando palavrões em forma de choro alto, se houvesse tradução certamente a minha parteira sairia correndo gritando que minha mãe tinha parido um filho do demo..
- Estava eu sentado num banco alto, com braços  de madeira em volta de minha cintura, a minha frente um prato de plástico amarelo, com bordas azuis em dupla circulando e dentro desta paralela, bichinhos azuis de pato Donald, Mikey e Pateta, o prato tinha uma divisão em “Y” e em cada setor um punhado de comidinha diferente em sabor e cor, eu ainda não conhecia os Pastéis, o Hot Dog, coxinhas, refrigerantes, mas já detestava aquela comida sem graça, não-  tinha fome, mas minha mãe com uma colherzinha das mesmas cores do prato, mandava eu abrir o “bocão da vó Vina”., com uma irritante voz de algum animal demente, pensando estar a me imitar, tá louco sô não falo daquele jeito maluco. De repente chegou visitas com presentes, era meu aniversário, havia um homem jovem e uma senhora um pouco mais velha, eram meus tios, mas não vinham de cara alegre, pareciam que vinham ao meu enterro, não entendi o beijo frio que me deram, o sem alegria do “parabéns zezé” (ué!!! Cadê o Zezinho!!??).
Só mais tarde entendi duas coisas: era meu aniversário de 1 ano, e era a Notícia que meu pai não viria me visitar, aliás não viria nunca mais, eu só o veria 21 anos depois.
- Das minhas traquinagens como pular do balanço na praça do natal, antes de ele terminar de rodar, entre outra estripulias, eu sentia mais que notava conscientemente, que minha mãe emagrecia, que não parava em casa, que se esforçava para nos levar aos domingos a passear na praia, parques, ou passeios educativos como a monumentos históricos e etc. Sempre muito cansada, muito irritada, encurtando os passeios e até... desmaiando em público.
- A Vesícula de minha mãe era “preguiçosa” naquele tempo isto era uma complicação, ela tinha de sofrer horrores, de dores, tomar várias injeções diárias, até a vesícula voltar a trabalhar para ser operada. Foi uma fase muito má, fiquei nervoso e desde este período não me recuperei totalmente, minha mãe era meu mundo, e meu mundo estava desabando de gritos e choros no quarto ao lado com a casa cheia de gente curiosa anotando tudo para futuras fofocas.
Na Adolescência ela ficou paralítica, foi um lapso emocional, ou como diria os vizinhos repórteres comunitários das desgraças alheias,falta de homem. Viajou para o Hospital dos Servidores para se tratar.
Sim Hospital dos Servidores, pelo IPASE antiga previdência dos Funcionários Federais, minha mãe era uma heroína que trabalhava em duas empresas de contabilidade e uma construtora, estudava vários cursos da época, corte costura, taquigrafia, telegrafia Morse, culinária avançada etc,.e ainda fazia curso superior de História, mais tarde Passou em primeiro lugar no concurso para os Correios, e tmbém foi ser professora de história em dois escolas secundárias.
- Agindo assim ela conseguiu nos criar com dignidade, sem apelar para educação rígida demais ou protecionista demais, mas milagrosamente dentro dos limites para humanos jovens, com liberdade assistida sem liberalidades ou covarde comodismo da abstenção de acompanhamento dos filhos usando o lema: liberdade e privacidade. Isto é que não, exercícios de casa, ela vinha ver orientar, ir na esc ola sempre para saber como andávamos, sempre presente, embora sentíssemos envergonhados numa época que já se dava tratamento liberal aos jovens. Entenderam?
D. Vandete deu uma de mãe cuidadosa, e uma de pai trabalhador, sustentador, e milagrosamente esta heroína do século XX modelou os filhos em homens de bem.
POR ISSO NESTE DIA DOS PAIS, EU DEDICO ESTA LÁGRIMA QUE ME CAI DOS OLHOS, A DONA VANDETE DE ALMEIDA BARROS, MEU PAI, MEU TUDO.

Um comentário:

  1. Meu pai, fantástico texto... e como dissestes, essas raras mulheres, mães, são "uma amostra gratis de Deus". Um abração.

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