ANÁRQUICA CORRUPÇÃO - ESPERANÇA DE JUSTIÇA DOS DO LADO DE
LÁ
jTorquato
Estranhando a presença de
tanta gente em volta de um edifício, me aproximei, estava deslizando no ar, não
era propriamente voando, em perto chegando, me deparei com uma multidão de
crianças de aparência desgraçada, uns estavam nus mesmo, outros barrigudos,
todos com uma carinha de sofrimento que mesmo durão, rolou lágrimas interativas
dos meus pretensos olhos que agora viam em 360º.
Disposto a saber a causa
curiosa daquela formação em círculo perante aquele edifício, indaguei
mentalmente a todos eles, alguns balbuciaram, outros choraram com o se
materializados estivessem, mas nada daquilo pode ser traduzido em frases, muito
menos em alguma linguagem conhecida.
Uma mulher, vestida com uma
roupa esfarrapada, descalça, descabelada, faces encovadas, e membros
finíssimos, abriu uma boca tremendamente horrível de cacos pretos e me explicou
num idioma parecido com o português do Brasil, falado no Nordeste.
- Este prédio moço, é um dos
que meu marido ajudou a levantar, vindo para cá, trabalhar na construção de
Brasília, com a esperança de retornar a nossa terrinha com dinheiro suficiente
para fazermos uma cisterna, endireitar nossa casinha, plantar nossa roça com
água guardada, criar nossos bichos, comprar uma cama de verdade, um fogão a gás,
e três caminhas para os meninos, sonhávamos até com cadeiras e mesas. E muito
milho para as galinhas.
- Bem moça, Brasília foi
construída, tudo foi um sucesso.
- Mas meu marido morreu de
doença lá em Brasília, nunca voltou, e a seca foi acabando com “nóis”. Primeiro
foi os “animá” depois o chão “turricado” era a visão diária de meus pés em
busca de água barrenta a léguas donde eu morava, e lá se foi Chiquinho, morreu
calado com um “olhão” me mirando como a me perdoar por eu ter posto “ele” neste
mundo. E eu moço, nem lágrimas tinha para chorar, em menos de três dias foram
embora todos meus filhos, não havia mais água, alimento, forças, me deitei na
palha e esperei meu fim.
- Anos depois retornei a vida
neste mesmo sertão, de Alagoas, agora fui parar no interior feroz de Pernambuco,
quase divisa com a Bahia, inda teve algum período de “bem aventurança”, casei
num São João, como diria.. “Arretado”, e fomos morar num sítio verde, onde
havia “inté” laranja, mas daí veio um cabra um dia e ofereceu uma ninharia
pelas terras que nem queríamos vender, não aceitamos, meu filho nenezinho inda
chorava no berço quando os tiros começaram, deu tempo de agarrar Nanozinho (meu
filho) e fugir pelo sertão de Deus, olhando para trás, fiquei petrificada como
na Bíblia, meu barraco com meu amor dentro, ardia em chamas, e os grtitos de
alegria dos bandidos junto aos de agonia de meu marido inda ressoam em meus
ouvidos.
Para o lugar que eu fui,
havia inté escola, com merenda, outro
rapaz se engraçou de mim, e juntamos nossos trapos numa rocinha no sertão Pernambucano,
a seca nos expulsou de lá e fugimos para Recife. Em uma calçada de uma praça do
centro, numa noite fria, fizeram de meu marido uma tocha humana. Tocaram fogo
nele dormindo porque não queriam dejetos humanos “enfeiando”, infectando, a paisagem dos ricaços das redondezas. Sei que
tive outras vidas, só não lembro com certeza de quantas vezes fugi com uma
criança enquanto queimavam meus homens, Conheci sim a maldade humana em maior
intensidade que a bondade humana. Mas
N uma favela de lá conheci uma organização que
cuidou de nós, Nanozionho aprendeu até capoeira, estudava numa boa escola com
jovens e dedicados professores que eram voluntários. Novamente o Governo estava
muito longe de nós. Mas quando chegou perto de nós foi para fechar a
organização, as merendas nossas, nossa alimentação diária, a educação e a saúde
das crianças. Eram os Políticos. Deram um jeito de desviar todo dinheiro da
Organização e acabou com ela. Mais adiante soube também, através dos membros,
professores e etc. que isto acontecia normalmente, os maus políticos como os
homens que encontrei pela vida, eram maioria neste país. Voltei as Calçadas de
Recife a mendigar, Nanozinho se entregou ao vicio e ao roubo, morreu resistindo
a prisão com apenas 9 anos. É este menino aqui. Me mostrou o “mudo de olhos
esbugalhados”.
Mas ainda não compreendi
este movimento de vocês ao redor deste prédio.
Este Prédio moço, é o da
Justiça Brasileira, nós estamos assistindo ao Julgamento dos Assassinos via
indireta, das monstruosidades que cometeram ao roubar e desviar dinheiro da
merenda, da educação e da saúde de um povo. Este povo são estas almas que estão
aqui na esperança de assistir UMA JUSTIÇA DOS HOMENS.
Estes aqui são crianças criminosas,
crianças abandonadas nos lixos, crianças que morreram ressecadas de sede, que
viraram marginais, que morreram ao nascer, que morreram na fila do SUS ou do
Hospital de Pronto Socorro do Brasil afora. Do outro lado está uma multidão
ainda maior dos adultos, lá sim, é um verdadeiro horror, como já disse alguém,
UM VERDADEIRO INFERNO DE DANTE construído por estes corruptos, alguns dos quais
estão aí neste prédio sendo julgados. E TODAS AQUÍ JAZEM NA ESPERANÇA DE
JUSTIÇA.
Deslizando em redor do
Prédio, por entre almas penadas de Brasileiros Vítimas da Impunidade, dos
Buracos Legais, dos Advogados inescrupulosos, que gera a MAIOR PRAGA BRASILEIRA
DOS ÚLTIMOS TEMPOS.... A CORRUPÇÃO.
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