MATE OU MORRA COM UM DEDO
Esta é sua responsabilidade
jTorquato
Joana estava “rodando a baiana”
não acreditava mais no filho, que alegre já saia para jogar bola.
-A fessôra disse que num tem aula
hoje, porque falta água, e falta comida.
Mas ontem também não houve
aula!!! Só este mês foi uns 10 dias!!! Exclama Joana indignada.
- Mas ontem faltou a “fessôra”, e
amanhã vai ter greve, tumbem num vai ter aula.
Vou lá, vou saber desta história.
Joana esbaforida jogou o lenço da cabeça na mesa que preparava o almoço, e saiu
como o vento norte.
A Diretora estava trancando o
portão principal onde já estava colado um papelão colorido onde se destacava as
letras GREVE.
- Então é verdade? Não vai ter
aulas por muito tempo. Que vai ser de meu filho?
- Dona Joana, falta água, falta
merenda, falta professores, falta pessoal de apoio como cozinheira, faxineira,
porteiro. Eu mesma nem aguento mais o mal cheiro dos banheiros. Tem o telhado
da sala 2 que vai cair, olhe tá um caos.
Dona Joana engole seco, daqui a
pouco estarão os políticos na TV em propaganda eleitoral, dizendo a mesmíssima
coisa de sempre, o Importante é Saúde, Educação, Segurança. Tudo uma grande
farsa, na eleição passada, Medita D. Joana, votei em quem mesmo para Deputado,
ah lembrei, o sobrinho do Dono da Farmácia, não, não esse foi para Vereador, o
Dono da Farmácia me deu 30 comprimidos do remédio que eu comprava todo mês lá.
Ah Deputado, sei não não me lembro mesmo. Pois desta vez que venham me pedir
votos, não vou me trocar por 30 comprimidos não, ou é trezentos ou é nada.
II
O Torrão quente da estrada
poeirenta denunciava meses sem chuva, lá por traz da cerca da fazenda de Seu
Amaro se avistava o casinha deserta, Seu Amaro tinha se ido para a Capital, a
Seca acabou com tudo dele, e nem conseguiu vender suas terrinhas. Seu João
Pensativo, ia carregando na cabeça um caixãozinho de defunto, de tábuas
estreitas, emprestadas de caixotes de maçãs ou talvez laranja, quem sabe? Seu
Dentinho (só havia nascido um dente) morreu de caganeira, na realidade de
mixadeira, pois nada engolia o menino em quase 10 dias, também em casa nada
mais havia, tinha de seguir a trilha do Seu Amaro e fugir daquele lugar, ir
pelo menos esmolar na Capitá, Mas só depois de enterrar o Dentinho (pobrezinho
nem tinha nome ainda), os outros oito sobreviventes iria com a gente, iria
ajudar a catar migalhas e uns trocados, quem sabe se melhorarias de vida. Seu
Amaro dizia, na Capitá ninguém morre de fome e de sede. Sempre sobra algum até
nos lixos ricos das casas até de pobres. Seu Fungência dia destes reuniu a
turma toda que trabalhava no milho, no algodão e nas roças pequenas, era um bom
tempo, com chuva que São José nos enviou. Via com um moço a tira colo, esse
moço pegou nossos nomes, providenciou os “titu de leitor” fez uma lista e no
dia da tár votação, fumos lá e votamos no cabra. El.e prometeu inté caminhão
pipa, prometeu cavar o solo e fazer uma calha para receber água da chuva e guardar
na fossa, prometeu que água não ia ser mais nossos problemas. “Votemos nele” e
aí o cabra desapareceu. Seu Malaquias da bodega que tem uma TV na bateria,
disse que ele aparecia sempre na TV, gritando e chamando nomes bonitos, para “cunhar
os outros de ladrão” mas cá para nós, quem rouba esperança da gente é o quê?
Seu Malaquias à porta da bodega
acenou para mim e me chamou, fui.
- Sabe o Sujeito que nos pediu voto?
- Sei
- Tá num tár de Julgamento por
corru... sei lá, corrução, pelo que entendi, roubar mesmo. E muito dinheiro “cumpadre”,
muito mesmo. Dinheiro que era para seca, para nós, para nossa estrada, nossas
plantações, nossa escola “pros meninos”. E” inté um hospitá lá na cidade”, oia
o sujeirto tem uma baita fazenda em Minas.
- “Cuma é?”
- Pois tou lhe dizendo, e o
sujeito reapareceu na TV dizendo que estava sendo perseguido, diabos, não conheço ninguém
das redondezas que esteja perseguindo o sujeito, só se for “pariceiros” dele.
III
Na maternidade de alto risco,
deitada no piso do corredor sobre um lençol verde, agoniava de Dor D. Marta,
que um dia foi professora do primário e hoje era empregada doméstica na
Pajuçara. Luzes apareceram junto com uma algazarra, vozes altas, gritos e
risos, entraram pela porta de vai e vem e nos viram ao chão, diversas máquinas
pretas com lentes nos miraram, luzes nos encandeavam, e uma repórter falava
rapidamente em tom de indignação forçada.
- Olhem o estado destas
parturientes, não há mais leitos, não há mais vagas, nem há médicos
suficientes, não há nem remédios. As demais Maternidades da Cidade estão também
lotadas, anestesistas estão em greve; a
segunda maior maternidade está fechada por falta de profissionais. Esta em
breve também fechará suas portas, o Hospital Universitário diz que também não
há condições para demanda reprimida de pacientes do SUS. Um caos.
Não é a primeira vez que isto
acontece, não é nem a primeira vez neste ano, não sou uma analfabeta que possam
enganar, como a estas pobres coitadas ao meu lado no chão da maternidade. Eu
sei que o Governo Federal pune o Estado por não ter votado em sua maioria no
Presidente deles, e de termos eleito um Governador da Oposição. Eu sei de
fontes seguras que o Governo Federal faz propaganda que está destinando um
montante de verbas ao estado para aplicar na saúde, mas na realidade não manda
ou só manda 5% do anunciado. Eu sei que a tabela dos SUS castiga aos
profissionais da área de Medicina e todos estão fugindo do SUS para ter uma
vida profissional mais digna. Eu sei que, a verba que o Governo Federal manda
passa pelos seus deputados e senadores, que a desviam para obras de fachada ou
mesmo para seu próprio bolso como a imprensa está cansada de denunciar. Eu sei
disso tudo e ainda creio que votei errado, pois meu candidato está lá, inerte,
calado, quem sabe por incompetência ou por comodismo, ou sei lá, perdoem minha
língua, por estar conivente também.
Do meu lado eu aviso aos
navegantes, marujos, tripulantes e passageiros da Nave Brasil.
SEU DEDO PODE MATAR, SEU DEDO
PODE CAUSAR UMA MORTANDADE INFANTIL, SE DEDO É CAUSADOR DAS DORES NAS FILAS DO
SUS, E NOS PISOS DOS CORREDORES DOS HOSPITAIS E MATERNIDADES DESTE PAÍS.
Por isso no dia das eleições
pense e sinta as dores atrozes, físicas, mentais e psicológicas, de uma enorme
fatia da população brasileira, mais exposta e mais frágil às consequências da
Impunidade que gera uma Corrupção gigante. É esta sua responsabilidade.
Maceió/agosto/2012
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