sábado, 15 de março de 2014

FUI




j.Torquato
- BOM DIA
- Bom diaaaa

Eu sabia que era uma formiga, e que formigas não davam “bom dias”
Mas até portão de cemitério já falou comigo, ligue não.
Cuspí areia da calçada, mas a boca seca não deixou sair o cuspe, só a areia.
Meu rosto ardia sob o sol na calçada de cimento, tem nada não.
Pulei no sol e me esquentei por completo
Nadei no Sol até me queimar.
Voltei no varal para puxar um vento e me enxugar do sol,
Tem nada não
Largatas ardem mas não falam, ou falam:
Rastejando ela disse que os humanos eram muito mais rastejantes, imundos.
Ela me disse isso? Aquele bicho com cornos na cabeça?
Mandou-me procurar a mim e parar de rastejar no álcool e na vida.
Olhei boquiaberto para aquela figurinha sem vergonha.
- Voce se acha NE? Um bebum de ressaca já se perguntou se nós bebemos?
- Você já se perguntou se nós planejamos matar, roubar e enganar nossos semelhantes?
Eu fiquei abilolado, deitado de lado, vendo a lama macia em que passei a noite
Na lama de repente o raio lunar se fez espelho e a lua apareceu.
Ri do riso dos mortos que na sabedoria recém-adquirida não a pode usar
Passei, passou, fostes, fui, fomos, já vou.
Uma buzina se espalhou e eu me acordei, me levantei da lama macia com sacrifício
Um bode me ajudou dando uma cabeçada na minha bunda.
Agradeci a todos e sai voando para o meu céu interior
Parado no meu ponto de bus, esperando a morte chegar para subir e ir-me.
Dei adeus da janela sob o ronco do motor. Aplausos.

FUI.

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