CASINHA BRANCA
j.torquato
12/2024
Chegando aqui é como se tivesse e estou, chegando numa nova cidade onde decidi morar, trouxe meu caminhão de mudança e minhas trouxas,
Desci de mim, apeando de minhas saudades, pelo arreio do alazão destino. E olhei em torno.
Não havia vizinhos para saudar e cumprimentar minha presença que seria novidade naquele local. Nem sombras de espiões atrás de cortinas e janelas, não havia crianças a correr, nem bicicletas encostada em muros e nem triciclo, nenhuma bola colorida largada nalguma grama de jardim.
Não havia porta cartas do correios, nem garagens abertas mostrando o carrão do ano. Tudo silêncio e deserto de humanos.
Olhei para o que seria o meu Lar, era linda casinha branca com telhados vermelhos, batentes de janelas e da porta principal também era do mesmo vermelho. O caminho era de pedras que faiscavam brilhantes sob o sol desmaiado. A grama, notei, era de um verde quase que artificial de tão lindo. Andei pelas pedras e a porta se abriu.
Eu nem estranhei, já pensei que tudo era automatizado na casa, pois é pisei no caminho de entrada e a porta...
Do caminhão não havia motorista, a bagagem foi desmaterializada e rematerializada dentro daquela casinha linda.
Entrei na casinha e vi na sala uma cadeira de balanço antiga com correias para amarrar braços, uma TV em preto e branco, uma radiola e muitos discos de vinil
No meu celular havia mil avisos de Novas Regras para idosos tirar CNH, idosos devem obrigatoriamente tirar nova Identidade, Idoso não pode comparecer a praia durante o dia. Nova regra para acessibilidade de Idoso nas redes Sociais, Idosos acima de 73 anos não pode mais contratar consignados pelo INSS pô estava cheio de avisos que soavam como ameaça por sermos idosos.
Para nós estava ali o Último aviso para idosos descartáveis.
Idosos acima de 73 anos dirijam-se a uma casinha branca com telhados vermelhos e
BOA MORTE.
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