domingo, 23 de fevereiro de 2020

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j.Torquato B.Filho




MORO NA RUA DA SAUDADE NUMERO 69,
DA JANELA VEJO E MIRO UM MUNDO QUE NÃO MAIS ME PERTENCE.
VEJO OS DOMINGOS IGUAIS A FERIADOS, FOGOS E DANÇAS,
VEJO O TRABALHADOR PASSAR CONTANDO O DINHEIRO DO GANHO
E VOLTAR DANÇANDO PARA A FESTA COM A NAMORADA,
VEJO O PIPOCAR DE FOGOS E O FORRÓ ALI AO LADO,
VEJO O SOM DAS CORDAS DE VIOLÃO SOB A JANELA DA SAUDADE
E ELA ENCANTADA, SONHANDO.
VEJO E SINTO A VIBRAÇÃO DOS TRIOS ELÉTRICOS E BANDAS DE METAIS
SINTO O CARNAVAL PASSAR SEM ADENTRAR MEUS POROS,
VEJO “OS PASSOS” DO MOLEQUE NAMORADOR, MARCHINHAS E MODINHAS.
NA REAL NÃO VEJO NADA, SÓ PRESSINTO, PORQUE MINHA JANELA DÁ PARA O MURO.
OU SEJA, SINTO A TEXTURA DO NATAL, ANO NOVO, CARNAVAL E SÃO JOÃO
O QUE VEJO É IMAGENS DE MINHA FANTASIA, SÓ EXPECTADOR PASSIVO
NA MONOTONIA DO FIM DO MUNDO.
EU VEJO O QUE EU QUERIA SENTIR.
AGARRANDO ANSIOSO O TRONCO DA ÚLTIMA ALEGRIA DA TERRA.
ANTES DE AFUNDAR NA MINHA ESCURIDÃO FINAL, TOTAL, IRREVERSÍVEL.
AÍ VÊM VERSOS DE MARCHINHAS DOS CARNAVAIS PASSADOS, PRESENTES E FUTUROS.
QUE SÓ EXISTEM EM SONHOS TRANSLOUCADOS DE UM SENIL ANIMAL EM EXTINÇÃO.
EU.
Torquato
Enviado por Torquato em 23/02/2020
Código do texto: T6872371
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