sexta-feira, 26 de abril de 2019

ACRUELOU


ACRUELOU

j.Torquato


PUS UM SAPATO DE CIMENTO NOS PÉS
USEI ÓCULOS ESCUROS À NOITE
APREENDÍ AS DORES DE JUNTAS DE UM RESFRIADO
SAQUEI TODOS OS DENTES PARA MASTIGAR COM GENGIVAS,
PERDÍ TODOS QUE ME ENTENDIAM
OS QUE GOSTAVAM DAS MESMAS MÚSICAS, CORES E SABORES.
DAS CURVAS GENEROSAS DE OUTRORA, DESPELANCADAS HOJE.
DESPEDI-ME DAS ESQUINAS, COM VIOLÃO, JORNAL, PATINHAS DE UÇÁ E CACHAÇA.
VOZ ROUCA QUE OUTRORA FAZIA BAILAR SONHOS MUSICAIS,
ATÉ O DÓ TEM DÓ, E FAZ UM FÁ SUSTENIDO  A GEMER.
ADEUS MINHA LUA PARTICULAR, MEU CANTO, MEU LAGO.
ADEUS MINHA PRAIA NOTURNA E SUA SEREIA DO SOBRAL.
ANDANDO CIMENTADO SEM SAPATEAR, PROCURANDO BATENTES SEM ENXERGAR,
EU VOU, SEM LENÇOS ( NÃO MAIS SE USAM), E SEM DOCUMENTOS (ESTÃO NA CAIXINHA DO SMARTPHONE). EU VOU
SENDO UM LATINO AMERICANO QUE NUNCA MAIS.
SERIA SIMPLES SE NÃO FOSSE O FIM, E O ESPELHO RETROVISOR MOSTRAR UM COVEIRO
CORRENDO AO MEU ENCONTRO
SERIA RISÍVEL CORRER COM SAPATOS DE CIMENTO.
O COVEIRO VAI ESBURACAR SOLOS, E CANTAR.
A MÚSICA FÚNEBRE QUE NUNCA CAI DE MODA.
E O MUNDO ESCURECEU, EMUDECEU.
DESSONORIZOU,
DESTATOU.
ACRUELOU.




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