OLHO A TERRA VERMELHO AMARELADA, EM POEIRA FINA ENTRA EM MINHA GARGANTA, E ABSORVE MINHAS LÁGRIMAS, TRANSFORMANDO SENTIMENTO DE DESESPÊRO EM LAMA. ALÍ O URUBÚ A ESPREITA DE MINHA ALMA PÚTRIDA.
AINDA NÃO DEI O ÚLTIMO SUSPIRO E OS CREDORES JÁ RASGAM MINHAS VESTES, A RECEITA FEDERAL ACERTA AS CONTAS E A PREVIDENCIA DIZ QUE EU NUNCA EXISTÍ, ESTÁ ATÉ EM CERTIDÕES NEGATIVAS.
NEGATIVO, FAÇO SOMBRA MAS NÃO EXISTO, TENHO FOME MAS NÃO TENHO FORTUNA, POR ISSO NÃO TENHO CRÉDITO, E NÃO EXISTO.
E, POR NÃO EXISTIR, PODEM ME SEPULTAR NO LIXÃO.
EU GRITEI PELAS MELHORIAS NOS TRANSPORTES DA MINHA CIDADE.
EU BERREI PELA SEGURANÇA EM MEU ESTADO. CALCEI A SAÚDE NA BOCA E OUVIDOS DAS AUTORIDADES, CLAMEI PELOS NOSSOS ALUNOS SEM AULAS EM GREVES POLÍTICAS E PERVERSAS, EU FIZ DESLIZAR ÁGUA POR CANOS NUNCA DANTES NAVEGADOS.
EU CONSTRUÍ CALÇADAS, PRACINHAS, PALCOS PARA ME EXIBIR.
EU FUI PLATEIA E ATOR.
EU DESPEJEI RANCORES E AMORES.
E AGORA AM PREVIDENCIA DIZ QUE NEM BRASILEIRO EU SOU.
PORQUE
SIMPLESMENTE NÃO EXISTO.
NÃO POSSO SER E MUITO MENOS TER.
E ANDANDO MINHA NUNCA APOSENTADORIA,
MORRO SEM AGONIA, NUM DIA LINDO CUJO SOL ME AJUDA A DISSIPAR MINHA FEDORENTA E PODRE MATÉRIA.
j.torquato
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